Depois de ficarem afônicos durante grande parte da crise política, os intelectuais petistas estão lentamente deixando a letargia e buscam agora engrossar o coro dos que exigem a virada na política econômica, alianças eleitorais à esquerda e tolerância zero ao caixa dois, em possível segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Irritados, tentam recuperar um espaço que já foi deles no partido e que foi gradualmente reduzido desde que a revolução pragmática, comandada por José Dirceu, começou, há dez anos. Ironia das ironias, é o mesmo Dirceu que é hoje aliado tático contra o conservadorismo econômico. “Não perdôo os responsáveis pelo que aconteceu no partido. Não aceito e não perdôo. No meu partido, não aceito isso, de forma alguma”, diz a socióloga Maria Victoria Benevides, da Faculdade de Educação da USP. O desabafo da professora é motivado pelo último lance da contabilidade criativa do ex-tesoureiro Delúbio Soares, o depósito de R$ 1 milhão para a Coteminas, empresa do vice-presidente, José Alencar. O desgosto de Benevides, no entanto, transparece também na crítica à política econômica de Antonio Palocci (Fazenda). “É o que existe de pior no governo.” Discretamente, está em curso no PT e em seu entorno uma movimentação para “fazer a disputa” do novo programa de governo de Lula, para a campanha da reeleição. Uma coalizão informal entre ministros liderados por Dilma Rousseff (Casa Civil), movimentos sociais e os “radicais” petistas já pode ser identificada, em oposição ao domínio da equipe econômica. É nessa canoa que os intelectuais querem entrar. “O novo programa de governo precisa trazer o conceito claro de que a gestão macroeconômica do primeiro mandato teve o caráter de transição, para superar o modelo neoliberal. Tem de haver mudança fundamental e o resgate de nossas bandeiras históricas”, diz o cientista político Juarez Guimarães, professor da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Ligado à Fundação Perseu Abramo, centro de estudos políticos do partido, Guimarães já conseguiu fincar o pé da intelectualidade petista na comissão preparatória do programa de governo, um primeiro sinal de prestígio recuperado. Quem coordena a comissão é o assessor especial da Presidência, Marco Aurélio Garcia, um raro intelectual petista com poder real no governo. Para o ano que vem, os intelectuais prometem mais. Querem ser ouvidos nos fóruns partidários. Vão participar de pelo menos seis seminários organizados no primeiro semestre pela fundação em parceria com o instituto alemão Friedrich Ebert. À bancada petista na Câmara dos Deputados já falaram Guimarães e Emir Sader, cientista político da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro). Outros também estão nos planos.
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