PT pode estar dificultando a candidatura de Lula
Em diálogo que manteve com um de seus assessores na noite desta terça-feira, Lula revelou-se “decepcionado” com o seu partido. Mostrou-se irritado com a decisão da bancada do PT na Câmara de votar contra a queda do princípio da verticalização. Falou em timbre de desabafo. Disse que às vezes tem a impressão de que o PT não deseja que ele seja candidato à reeleição. Além de “não ajudar”, disse ele, o partido ainda “atrapalha”.
Lula insinuou que a ação do partido seria deliberada. Ante uma intervenção de dúvida de seu interlocutor, o presidente emendou: se não for de propósito, é por burrice, o que é pior. Partidos como PC do B, PSB, PL e PTB condicionam a formalização de uma aliança em torno da candidatura Lula ao fim da verticalização. Daí a irritação do presidente.
Lula prometera a líderes de legendas aliadas que se empenharia pessoalmente para reverter a tendência da bancada do PT, majoritariamente contrária à queda da verticalização. Ele manifestou sua posição ao presidente do PT, Ricardo Berzoini, e aos líderes do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), e no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP). De nada adiantou.
Reunidos nesta terça-feira, os deputados petistas mantiveram a decisão de votar contra a emenda constitucional que prevê o fim da verticalização. O presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PC do B-SP) pretende submeter a proposta à deliberação do plenário nesta quarta-feira. O Planalto tenta adiar a votação.
O princípio da verticalização entrou em vigor nas eleições de 2002. Obriga os partidos a repetir nos Estados a mesma aliança feita no plano federal. A regra foi instituída com o objetivo de estimular a coerência partidária. A maioria dos partidos entende, porém, que a lei é prejudicial aos seus interesses eleitorais. Impede que sejam costuradas nos Estados alianças mais convenientes à realidade local.
Legendas menores, como PSB, PC do B e PPS, enfrentam uma dificuldade adicional: a cláusula de barreira. Precisam obter pelo menos 5% dos votos do eleitorado. Sob pena de perderem uma série de regalias no Congresso. Entre elas o direito de participar do conselho de líderes e de indicar membros para as comissões permanentes da Casa.
Vem daí o desejo desses partidos de derrubar a verticalização. Acham que não podem se dar ao luxo de abrir mão de alianças que lhes pareçam eleitoralmente mais favoráveis nos Estados. Entre as legendas maiores, além do PT, só o PSDB quer a preservação da regra. PMDB e PFL vão votar a favor da emendas constitucional que acaba com a verticalização.
Na opinião de Lula, a intransigência do PT é “irracional”. O presidente acredita que, com ou sem lei, os partidos vão estabelecer nos Estados as alianças que bem entenderem. A manutenção da verticalização, argumenta o presidente, pode dar uma aparência de traição aos pactos firmados nos Estados, mas não irá impedir que eles aconteçam.
Reunido com líderes partidários nesta terça, Lula disse que, no que lhe diz respeito, só tem interesse por alianças "sinceras". Algo que, na sua opinião, não se assegura por meio de lei. Não deseja forçar ninguém a segui-lo. Acha que as alianças devem ser "voluntárias". Mas, uma vez decididas, não podem comportar a "bigamia".
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